Elaine Saad destaca a consciência que o coach deve ter para aprimorar o próprio papel profissional
Muitas vezes tenho me pegado pensando sobre a profissão de Coach. O Coaching surgiu no Brasil, mais fortemente, entre 1993 e 1995. Naquela época a maioria dos executivos entendia esse processo como um procedimento terapêutico e o recusava como ferramenta de crescimento para líderes.
Ao longo dos anos essa prática foi tomando forma e corpo. Muito já se escreveu sobre ela, seus benefícios e resultados prováveis. De fato, quando bem praticada, pode trazer resultados maravilhosos para uma organização. A questão é que essa atuação de Coach ainda não tem reconhecimento como profissão oficial em nosso país e, como tal, não tem leis que a regulamentam.
Nos últimos anos tivemos então uma avalanche de profissionais se intitulando de “Coachs”. Muitos deles, com experiência executiva e por perceberem em si mesmos a característica de gostar de pessoas, entendem que devem então atuar em Coaching. Realmente podem agregar valor, mas para ser um Coach somente esses aspectos não são suficientes. Esse artigo não é uma crítica generalizada, até por que seria impossível criticar genericamente uma imensidão de pessoas que, enveredando para a prática do Coaching, têm descoberto alegria e satisfação nessa profissão.
Mas por aqui quero chamar a atenção para a consciência do Coach sobre o papel humano que exerce. Para lidar com pessoas não basta apenas gostar delas, é preciso compreendê-las em sua essência e valorizar suas diferenças. Esse caso exige preparo e estudo, pois analisar os indivíduos é tomar cuidado para não intervir no que não deve receber interferência, é ser compreensível e generoso, sem deixar de lado feedbacks duros que temos de dar. Não ganhamos essa habilidade apenas no estudo, ganhamos na prática. Quanto mais praticamos melhor ficamos.
Dessa maneira, é muito importante que todos nós, atuantes como coach, tenhamos essa consciência. Que não nos coloquemos naquele lugar denominado por Jacques Lacan, psicanalista francês, de “o lugar do suposto poder”. Apesar de podermos contribuir para que as pessoas mudem e cresçam, de verdade somos apenas a ponte que as ajuda a sair de um lugar e ir a outro. Acharmos que podemos muito mais do que isso seria, na minha visão, muita pretensão de nossa parte e com certeza faríamos intervenções que não contribuiriam a médio e longo prazo.
Torço para que todos os Coachs tenham ou adquiram essa consciência de responsabilidade e compromisso. Isso fará muito bem a todos nós da área de Recursos Humanos.
* Sobre a autora: Elaine Saad, Presidente da ABRH-Brasil e Gerente Geral da YSC Brasil, tem mais de 25 anos de experiência em Recursos Humanos, é especialista no suporte em mudança organizacional, M&A e gerenciamento e capital humano das organizações. Também auxilia diretamente profissionais de RH, CEOs e executivos em processo de coaching, assessment e desenvolvimento de líderes. Com formação em Psicologia e Administração de Empresas, entre 2007 e 2012 foi consultora e colunista de carreira da revista Você S/A e UOL.
* Foto por Freepik