Quem me inspirou para essa frase foi o CEO da BASF agrícola América Latina, Eduardo Leduc. Passei a prestar atenção nela. Nesta virada de ano, depois do Natal e do Ano Novo, computei, olhei carinhosamente todas as manifestações de boas festas que recebi e as que eu enviei. Surpresa: 90% para pessoas de minha convivência profissional e de negócios, ao longo de muitos anos.
Ao olhar para esse rol de amigos, você ainda poderia dizer “ok, a arte do relacionamento faz parte de um bom executivo”, mas quantos desses são os seus melhores amigos, aqueles de fé, irmãos camaradas como canta Roberto Carlos? A maioria. Passados mais de 40 anos de experiência de vida empresarial, acadêmica e associativa, posso constatar que a expressão do Leduc está correta: amigos, amigos e negócios fazem parte.
Clientes continuaram como inseparáveis amigos, mesmo quando já estamos em segmentos de negócios diferentes. Fornecedores se configuraram amigos que superaram o tempo da nossa relação, muito além das transações comerciais. Mas por que seria de se estranhar, se é que isso deveria nos causar estranheza? Outro dia me disseram que o nível de confiança das pessoas está caindo no mundo todo. Será? Ou essas assertivas não fariam parte de uma visão de mundo própria de quem as emite?
O mundo ficou estupidamente veloz. E já sabemos que existirão apenas dois tipos de profissionais no futuro: os velozes e os desaparecidos. Por isso, numa era de nano satélites, mais do que antes, confiança representa o valor e fator crítico de sucesso. Sem confiança nas relações não decidiremos em velocidade num mundo cuja ópera exige múltiplos musicistas e instrumentos tocando juntos, sem tempo para ler as partituras. Quer dizer, um jazz rock e muitas vezes heavy metal.
Assim, o relacionamento sincero, o desejar que clientes, fornecedores e todos os stakeholders progridam e possamos visualizar uma relação de longo prazo em nossos negócios, passa a definir quem vai ou não ao tal do futuro. A decisão crucial é a resposta à pergunta: Com quem vamos?.
Você também deve conhecer colegas de trabalho que ao obterem cargos, poder, influência sobre a vida de suas equipes, clientes, fornecedores e prestadores de serviços, atuaram com doses elevadas de tirania nas relações, com empáfia e arrogância. Agiram com imprudentes cargas de autoegolatria. E nas viradas das esquinas do mundo, como sempre ocorre, um dia essa pessoa perde o posto, perde o sobrenome da corporação onde atuava e do cargo.
E então ressurge pedindo ajuda, para muitos dos quais nunca soube conciliar essa arte espetacular dos amigos, amigos e negócios fazem parte. Você conhece gente assim? Eu conheço muitos, infelizmente. Seres incapazes da elevada consciência da humildade, cuja sabedoria aprendi com o velho Nishimura, fundador da Jacto S/A, quando eu ainda tinha 24 anos de idade e ele dizia: “Tejon, ninguém cresce sozinho.”
Amigos de verdade não existem para fazer o que os outros desejam. A sólida amizade é muito maior do que apenas a simpatia. Representa empatia. Saber se colocar no lugar dos outros. E ao fazer isso, agimos não simplesmente para atender clientes, mas para inspirá-los, assim como nossos fornecedores e colaboradores a fazer o que precisa e deve ser feito, numa ótica de longo prazo, de sustentabilidade. Claro que o lema amigos, amigos e negócios fazem parte tem como sólido valor o alicerce de relações duradouras.
Ao sermos guiados por essa virtude, toda e qualquer relação que desenvolvemos tem sempre como fundamento entregar algo mais valioso para a outra pessoa do que o preço, ou salário, ou premiações poderiam interpretar. Afinal, Einstein escreveu: Existem números que são contados e contam. Outros que são contados e não contam. E muitos números que não são contados e contam mais do que todos os outros.
Grandes amigos, eternos amigos, amizades sinceras, nascidas sim de uma vida profissional, empresarial, acadêmica e todo dia, a cada dia, chegam novos grandes amigos. E incrível, esses amigos geram outros amigos. Logo nas estratégias de marketing poderíamos mudar a velha e sábia frase que era customer get customer, para a very good customer becomes friend, so friends get friends. Ou ainda como também aprendi com o fundador da Agroceres, Antônio Secundino de São José, que dizia: Se negociarmos honestamente com as pessoas, elas jamais nos abandonarão. Sendo assim, negócios, negócios e grandes amigos fazem parte.
Sobre o autor
* José Luiz Tejon é mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie, doutorando em Ciências da Educação pela UDE – Universidad de la Empresa/Uruguai (UDE) e especializações em Harvard, MIT, Pace University, Insead. É professor de Pós-graduação em diversas universidades, como a FGV In Company e Audencia Business School – Nantes/França, e sócio diretor da Agência Biomarketing.